quinta-feira, 16 de junho de 2016

Procissão entrou por engano na autoestrada

Sacristão alcoolizado confundiu o caminho e meteu pelo acesso da autoestrada. Mordomo da festa diz que teve prejuízo porque foi obrigado a pagar euro e meio de portagem por cada pessoa e ainda por cima foi multado pela brigada porque a parte de trás da procissão tinha de levar velas vermelhas.


Nos últimos quilómetros o andor foi transportado num trator
porque os fiéis começaram todos a queixar-se das hérnias.

A procissão em honra de Santa Vanessa ficou, este ano, marcada por um incidente que só por milagre não teve consequências graves. Por causa das obras que decorrem na Avenida Dom Zeca da Verruga, a procissão teve de seguir um percurso alternativo, acabando por entrar na autoestrada, por engano.

A culpa, diz o padre Ferreira, é do sacristão: “Eu avisei-o! Disse «Ò Camilo, tu leva mas é o GPS porque a rua principal está em obras e como a gente vai por caminhos velhos tu perdes-te, como daquela vez que em fomos parar à buáte». Só que ele teimou que sabia o caminho e como naquele dia ele me roubou mais vinho da missa do que é costume, olhe, ficou meio ourado e não dizia coisa com coisa”.

A procissão entrou no acesso à autoestrada e, quando as pessoas deram por ela, já era tarde e não podiam voltar para trás, porque naquela zona é proibido fazer inversão de sentido de marcha. Foram obrigados a entrar pela portagem, o que implicou um prejuízo grande nas contas da festa deste ano.

“Você nem me diga nada! Euro e meio por cada pessoa, pelas minhas contas iam mais de 50, veja lá quanto é que eu tive de pagar!? E depois os fregueses queixam-se que eu só vendo frango com gogo e que o coelho sabe a gato. Eu tenho de ir arranjar dinheiro a algum lado”, explicou o Américo do Talho, que este ano é o mordomo da festa de Santa Vanessa.

Mais sorte acabou por ter o andor, que não precisou de tirar ticket, uma vez que o Padre Ferreira tinha o identificador da Via Verde no bolso e meteu-o nos pés da santinha. Mas as peripécias não ficaram por aqui. Para complicar ainda mais as coisas, durante a viagem a procissão foi intercetada pela Brigada de Trânsito, que detetou várias irregularidades. 

“Ui, eles queriam multar tudo e mais alguma coisa: era porque a gente não tinha matrícula, era por não termos seguro, nem inspeção obrigatória... Tive de perder o amor a uma nota de 20 euros e mesmo assim ainda nos passaram uma multa porque as pessoas que iam atrás deviam usar velas vermelhas e não amarelas, que era para ser uma luz igual à dos carros”, lamentou-se o Américo.

Já perto do final, registou-se um novo incidente. A Toninha do Olival distraiu-se, encostou a vela à senhora que ia à frente dela e, sem querer, pegou-lhe fogo ao cabelo. 

“Olhe, o povo tinha que vir a andar bem, porque íamos na autoestrada e aquilo é para ir ligeirinho. De repente, aparece a tabuleta a dizer 'Vizela' e a gente tivemos todos que travar porque não estávamos a contar com a saída assim tão cedo. Ora, eu como vinha com uns chinelos de dedo já muito gastos por baixo, não consegui travar, derrapei e fui bater na Bina do Outeiro”, disse a Toninha.

Ao que parece, a Bina tinha acabado de sair do cabeleireiro, onde fez uma permanente, e como trazia o cabelo cheio de laca – um material altamente inflamável – bastou encostar a vela para começar tudo a arder. Valeu a rápida intervenção do Neca Bombeiro, que não tendo mais nada à mão, agarrou no balde de água benta e deitou-o pela cabeça abaixo.

Recorde-se que a Santa Vanessa não é reconhecida oficialmente, mas tem muitos seguidores em São Firmino. Vanessa era uma doutora da Segurança Social que, alegadamente, terá curado Tino e Berto, dois irmãos que ficaram entrevados depois de uma noite de copos na Adega do Pintassilgo. O milagre aconteceu no dia em que os dois irmãos foram à Junta Médica: mal a Santa Vanessa lhes passou os papéis para a reforma, o Tino e o Berto levantaram-se da cadeira de rodas, começaram a andar e só pararam no Snack-Bar Herculano.

© Paulo Jorge Dias

7 comentários:

  1. É de causar espanto até que ponto chega a alienação e a estupidez humana causada pela crença religiosa.

    ResponderEliminar
  2. Eu fartei-me de rir do relatório do percurso da procissão, mas quando li o comentário do José Gonçalves Cravinho desdobrou-se-me o riso e só faltou um bocadinho pequenino para ter uma apoplexia. Tanta estupidez numa pessoa só também é demais

    ResponderEliminar
  3. É curioso que, depois de ler o comentário dele e o seu, quem me parece ser estúpido é você!!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Outro anormal que também não percebeu o sentido da crónica.

      Eliminar
  4. palavras para quê. Quem dizia que beber vinho era dar de comer a milhões de portugueses, já entregou o corpo aos bichos...

    ResponderEliminar
  5. Vá, vá, meus amigos. Isto aqui é um sítio de diversão, não há cá lugar para chatices. Vamos todos beber um fino com Martini ali ao Snack-Bar Herculano. Pago a primeira rodada. Aos que a perceberam a piada... e aos que não perceberam também!

    ResponderEliminar