terça-feira, 11 de outubro de 2016

Taxistas de São Firmino protestam contra transporte ilegal

Os taxistas da nossa freguesia acusam de concorrência desleal um serviço de transporte às cavalitas, que funciona através da Internet e permite às pessoas chamaram um carregador que, por metade do preço, as leva às costas até ao seu destino. O caso já levou a agressões, tendo os taxistas enfiado a cabeça de um carregador na sanita e dado a descarga.

Cada viagem às cavalitas pode custar 1 euro por quilómetro e o passageiro
pode levar as sacas de compras penduradas na boca nos moços.



O serviço é recente mas já é um sucesso na aldeia de São Firmino. Onde quer que a pessoa esteja, basta pegar no telemóvel e chamar pela Internet um carregador, que em poucos minutos vai ao seu encontro e carrega a pessoa às costas até ao seu destino.

Olhe, senhor, a mim dá-me um jeito muito grande porque eu ò sábado vou à feira, a Vizela, e se vou estar à espera da camineta é um atraso de vida porque eu, quando lá chego, as feirantes já só me querem impingir nabiças murchas e diospiros tão relados que nem os porcos os querem. Ò pr'a cá, costumava vir no táxi do Fredo, só que ele é um aldrabão, porque pôs um fundo falso na mala do carro e rouba-me metade das compras”, contou a Ernesta do Cabral, cliente assídua do transporte às cavalitas.

Além da rapidez, os clientes dizem que é mais barato principalmente porque não cobram taxas extra pela carga que o passageiro leva. Os carregadores transportam as pessoas às costas e, pelo mesmo preço, trazem as sacas equilibradas na cabeça ou presas aos dentes. “E até temos um moço que tem umas orelhas de abano que dão muito jeito porque o passageiro pode lá pendurar as cestas das compras”, explica o Paulinho de Paçô Vieira, criador deste serviço.

O negócio agrada a quase toda a gente, menos aos taxistas que perdem clientes e se queixam de concorrência desleal. “Quer-se dizer, eles não pagam gasóile, nem pneus, nem têm que deixar uma nota de 20 no cinzeiro do carro, sempre que levam o carro à inspeção. Assim até eu fazia mais barato! E o pior é que eles enganam as pessoas, porque não me venham dizer a mim que andar num carro de praça é tão confortável como ir às costas de um marreco qualquer. Às cavalitas tem de apanhar com fedor a suor do moço, enquanto no meu táxi não cheira a nada disso... só a bicho morto, porque tenho um gato entalado na solfage e ainda não tive vagar para ir lá raspá-lo”, disse o taxista Emílio Barbas.

O empresário do transporte às cavalitas nega as acusações, afirmando que o seu serviço tem custos acrescidos: “É mentira que a gente não tenha despesas! Fiquem sabendo que tenho de mudar as solas dos sapatos de 5 em 5 mil quilómetros e, certas noites, não me chegam 30 euros em Reumon-Gel para as dores nas costas. Sim que isto de carregar com as moças às costas não é brincadeira. No outro dia fui levar a Zeza a um jantar, em Felgueiras, e ò outro dia tive de ir ao endireita, que eu mal me conseguia mexer”.

O Paulinho de Paçô Vieira acusa ainda os taxistas de agredirem os seus funcionários, sendo que o caso mais grave ocorreu na semana passada, quando foram chamados para ir buscar um velhote ao Snack-Bar Herculano. “Fizeram uma espera ao meu empregado, deram-lhe uma carga de lenha e, no fim, agarraram nele, enfiaram-lhe a cabeça na sanita e deram a descarga. A sorte é que o carregador tinha o cabelo à escovinha e, como conseguiu limpar o sarro da retrete, o Herculano ficou tão contente que, de recompensa, deu-lhe 20 euros e já ganhou a tarde”, explicou o Paulinho.


© Paulo Jorge Dias

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