terça-feira, 31 de outubro de 2017

Zombies espalham o terror em São Firmino

Foi uma madrugada de medo e histeria. Correu a notícia que dois mortos-vivos tinham saído do cemitério e o povo, em pânico, desatou a fugir. Mais tarde descobriu-se que, afinal, os zombies eram só o Rubem e o Fábio que tiveram um acidente de motorizada, foram projetados para dentro de uma campa e saíram de lá todos esfarrapados, desdentados e cheios de lama.

A Famell do Rubem ficou neste triste estado, depois do acidente. Vinham ao despique com uma bruxa e, como a vassoura dela era mais rápida, acionaram o nitro e despistaram-se. 


A freguesia de São Firmino acordou em polvorosa. Havia povo aos gritos, a fugir pela rua fora e a dizer que vinham aí os zombies. O alerta foi dado pelo coveiro que desatou aos berros a dizer “Aque de Rei, que os mortos-vivos vêm aí para nos comer a mioleira!”.

Gerou-se o caos junto à Igreja, onde muita gente esperava pelo início da missa das 7h00. Houve ataques de pânico, houve quedas de senhoras que não conseguiam correr por causa dos sapatinhos de domingo e houve ainda guarda-chuvadas em dois escuteiros que aproveitaram a confusão para apalpar os peitos às catequistas.

Mas houve quem não acreditasse na história, como é o caso do Veloso dos Cortinados: “Eu tinha ido tomar café e meio bagaço ao Snack-Bar Herculano quando me disseram 'Ò Veloso, tu põe-te à tabela, que andam aí dois zómbes à solta e já os viram a jogar futebol com a cabeça de um drógado'. E eu, por um acaso, estranhei porque a minha Camila passa as noites a ver aquele filme de zómbes que dá na parabólica e, que eu me lembre, nunca lá vi nenhum zómbe a jogar futebol. Se ainda fosse andebol, ainda vá que não vá, porque a pessoa pode agarrar nos cabelos e atirar a cabeça para a baliza. Agora futebol? Nãh...”.

E o Veloso tinha razões para desconfiar. É que, afinal, não se tratavam de zombies mas antes do Rubem e do Fábio, dois jovens sãofirminenses que são adeptos da velocidade e atividades radicais. Segundo nos contou uma testemunha, ambos estiveram a noite toda a mamar Gin Tónico na discoteca Eskadote e, quando voltavam para casa, ter-se-ão picado com uma bruxa que vinha numa vassoura topo de gama. Como não queriam que uma mulher lhes ganhasse, acionaram a botija de nitro que traziam na Famel e, ao fazer a curva do cemitério, despistaram-se.

Mas o Rubem tem uma versão muito diferente: “O que se passou foi que a gente foi para a náite, encontrámos lá a Sandrina do Almude e Meio e a moça cismou que havia de namorar com o Fábio. Ele chateou-se e disse-lhe 'Não falo mais par ti', mas ela ateimou e a gente teve que fugir. Só que ela veio atrás de nós com a Toyota Hiace do pai dela e, ao passar ao cemitério, bateu-me com o para-choques na roda de trás e a motorizada fugiu-me, estampei-me contra o muro e nós os dois fomos pelo ar e caímos dentro de uma campa aberta”.

Lá dentro, os dois jovens ficaram cobertos de lama, esfarrapados e, pior do que isso, com os dentes partidos porque bateram com a cara numa enxada que o coveiro deixou esquecida lá dentro. Quando conseguiram sair da cova, naquele triste estado, terão sido confundidos com zombies.

“A gente estávamos aflitos e pedimos socorro ao Sérgio Coveiro mas ele desatou a fugir e empurrou a mulher dele para cima de nós. Até disse 'Comei a minha Aurora que é cabeçuda e, por isso, tem mais miolos para esbichar'!”, contou o Fábio. Rapidamente a notícia correu pela aldeia, os sinos tocaram a rebate e, passado o pânico inicial, o povo juntou-se para enfrentar os alegados zombies.

“O meu Marco Adalberto foi à Internet ver como é que se matavam os zómbes e descobriu que era preciso cortar-lhes a cabeça. Vai daí, mandei-o ir a casa buscar a catana que o meu sogro trouxe da Guiné, agarrei nela, fiz mira e... zás. Mandei-lhe uma catanada! Só que o moço agaixou-se e só lhe cortei um carrapito de cabelo que ele tinha em cima”, explicou o Álvaro dos Contrapilas.

Por sorte, nessa altura começou a chover e foi aí que saiu a lama e o sarro dos zombies e percebeu-se que eram o Rubem e o Fábio, que ainda assim não se livraram de um tareão, por terem assustado o povo e entortado a enxada do coveiro com os queixos.

© Paulo Jorge Dias

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