quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

São Firmino atingido por violento sismo

Parecia o fim do mundo. A terra tremeu durante meio minuto, mas foi o suficiente para deixar a nossa aldeia de pernas para o ar. Além dos estragos, houve vários feridos, sendo o mais grave deles o Zé da Mila, que estava na cama e foi esmagado pela mulher, que pesa 160 quilos. Foi preciso tirar as telhas e puxar a Mila por um guindaste. 


Ferido mais grave foi o Zé da Mila, esmagado pela mulher que, por causa do sismo, rebolou sem querer para cima dele.

O sismo teve a magnitude de 0,5 na escala de Richter, que é o equivalente a ter o vizinho de cima a arrastar os móveis, mas foi quanto bastou para semear o caos e a destruição na aldeia de São Firmino.
A terra começou a tremer cerca das 3 da manhã, uma hora em que estava tudo a dormir. Foi o caso do Castro da Drogaria, que ficou ferido gravemente quando caiu do primeiro andar, isto apesar de ele morar no segundo piso.

“Foi tudo muito de repente. Eu adormecei no sofá, a ver o resumo do CCD de Santa Eulália e, de repente, senti tudo a abanar. Quando dei por ela, já eu estava no apartamento de baixo, deitado na cama da minha vizinha Perpétua. Nem deu tempo para aproveitar porque, nisto, chega o marido dela da boîte e, como ele é caçador e já foi campeão de tiro aos pombos, só tive tempo de saltar da janela abaixo”, contou o Castro.

Alguns feridos foram assistidos no local, como foi o caso do Abílio dos Seguros, que levou uma chapada na boca porque a mulher pensou que o tremor de terra fosse ele a ressonar em voz alta. Mas houve quem tivesse de ser assistido no Hospital. Uma dessas pessoas foi a Alexandrina das Nêsperas, que veio à janela ver o que se passava e levou com um vaso que caiu da janela da vizinha de cima.

“Eu vim cá fora espreitar porque ouvi um barulho tipo 'tum, tum', mas pensei que fosse o vizinho de cima a abanar com a cama. Ele costuma fazer isso quando vem da França e chega com a folia toda, mas depois lembrei-me que a mulher dele está cá sozinha e eu achei que era para aí o picheleiro que veio tapar-lhe uma fuga no bidé, porque diz-se que a rapariga se porta mal e ela realmente vai todos os dias à padaria só com leggings e sem mais nada por baixo, deve ser para fazer reclame”, disse a Alexandrina.

O caso mais grave acabaria por ser o do Zé da Mila, que ficou esmagado e teve de ser socorrido pelos bombeiros, como contou à nossa reportagem o comandante Zeferino Ventura: “O tremor de terra abanou-lhe a cama e a mulher, que tem 160 quilos, rebolou para cima dele e o desgraçado ficou ali aflito sem se conseguir mexer. Lá soltou um dedo e conseguiu telefonar para o 112, mas foi um berbicacho jeitoso... a gente levou ali uma hora e meia para o tirar de lá, porque a mulher não acordava nem por nada. Foi preciso abrir as telhas e mandar vir uma grua das obras para levantar a senhora e tirar o marido lá de baixo”.

No meio de toda a destruição causada pelo sismo, ainda houve quem não desse por nada. “Eu tive azar porque nessa noite, como era fim de semana, ia para tomar o Viagra mas, com a pressa, enganei-me e mamei um Xanax. Dormi seguidinho até às oito, mas a minha Chica diz que acordou com um brrroc brrroc a meio da noite, só que não ligou porque julgou que era o nosso filho, João Otávio, a arrastar a mobília. Ele é drogado e já não era a primeira vez que me fugia com uma escrivaninha para pagar uma dose de farinha misturada com um benuron esmagado”, disse o Ilídio das Cabaças.

Há, no entanto, suspeitas de que não houve sismo nenhum e foi tudo um arranjo de vida, para dar a banhada à companhia de seguros. Aliás, já não seria a primeira vez que os habitantes de São Firmino inventavam uma catástrofe. Em 1983 metade da aldeia foi destruída por uma avalanche de caldo verde, mas na altura conseguiram convencer toda a gente que foi o vulcão Ofélia que entrou em erupção.

Na verdade, o que se passou foi que um grupo de amigos se juntou no cimo do monte para tentar bater o recorde do Guiness para a maior panela de caldo verde. Levaram uma cisterna de 20 mil litros que tombou e derramou a sopa pela encosta abaixo. Além do dinheiro do seguro, ainda receberam subsídios do estado e equipas de resgate que vieram ao engano e acabaram a trabalhar de graça nas vindimas.

© Paulo Jorge Dias

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